Privatização da TAP – quando a realidade do mercado contraria o equívoco politico


Não é usual que este blogue comente afirmações pontuais de governantes, altos funcionários, empresários ou opinião pública. Abrimos uma excepção porque a gravidade da situação na TAP obriga-nos a grande esforço de rigor.

Não é todos os dias que vemos a realidade do mercado desmentir o ministro com a tutela da TAP. Com efeito,

-a suspensão da rota Heathrow/Funchal mostra que a TAP serve o turismo apenas enquanto tal for rentável, como aliás deve ser,

-afirma o Ministro que “Voos para a Guiné? Claro que o futuro accionista da TAP tem que garantir”, quando o accionista Estado não os assegura … por falta de rentabilidade da rota e estar já ser operada por empresa privada,

-afirma ainda, “ Voos para as comunidades lusófonas? Faz parte do caderno de encargos", quando o accionista Estado não assegura rotas para Canadá e África do Sul por não serem rentáveis.

 

*Contexto das decisões sobre Londres/Funchal e Lisboa/Bissau
Na abordagem que temos vindo a fazer do recente entusiasmo politico sobre a Privatização da TAP (1), temos destacado dois pontos

-cabe ao governo, qualquer que seja, definir politicas que garantam a acessibilidade aérea competitiva a Portugal (continente e regiões autónomas),

-a TAP, pública ou privada, é uma companhia muito importante desta acessibilidade, mas não é um instrumento directo destas políticas, porque regras comunitárias sobre a concorrência o excluem desde 1993 (liberalização dos direitos de tráfego).

A TAP opera em mercado aberto e com a obrigação de ser rentável, realidade que ainda escapa a governo, sindicatos, interesses empresariais e opinião pública.

Mais concretamente,

-a TAP só liga Portugal a mercados emissores, países da CPLP e emigração se as rotas forem rentáveis para o seu modelo de operação.

*Rota Londres (Heathrow)/Funchal
A 7 de Dezembro, António Trindade, CEO do grupo Porto Bay escreve no Facebook:

 
A 9 de Dezembro Fernando Pinto dá entrevista a Dinheiro Vivo. Da conversa resulta uma informação que o jornalista comunica aos leitores:

-a rota Londres (Heathrow)/Funchal é interrompida no quadro da gestão de tesouraria em tepo de aperto (2).

Simples.

*Rota Bissau/Lisboa suspensa pela TAP

A 14 de Novembro, o título do Notíciasaominuto fala por si (3):

 


Citamos o que é informação da Lusa:

-"Em qualquer caso serão sempre garantidas obrigações de serviço público. Voos para a Guiné? Claro que o futuro accionista da TAP tem que garantir. Voos para os Açores e para a Madeira? Claro que o futuro accionista da TAP tem que garantir. Voos para as comunidades lusófonas? Faz parte do caderno de encargos".

Para sermos precisos, o conceito comunitário e nacional de ‘serviço público’ tem a ver apenas com a Regiões Autónomas e não com a Guiné. Com efeito,

-a rota Lisboa/Bissau é referida peloo equívoco dominante sobre ‘a TAP servir a lusofonia e a emigração’ e sofre com a dura realidade do mercado.

Na entrevista ao i de 9 de Dezembro, o CEO Fernando Pinto informa que, apesar de já ter "a garantia das autoridades que as condições de segurança estão reunidas", os voos da TAP Lisboa/Bissau suspensos desde Dezembro de 2013, não são retomados porque:

-"A razão principal é mercado mesmo. Chegámos a fazer uma pesquisa para ver como estavam as possibilidades, mas temos uma procura muito baixa do mercado".

*Rota Bissau/Lisboa operada pela Euroatlantic
Citamos o título do Expresso online de 30 de Outubro de 2014 (4):

 


A realidade é simples e está a ser escamoteada:

-há acessibilidade aérea a Portugal para além da TAP (post).

*Voos para as comunidades lusófonas
Ignoramos que cláusula do caderno de encargos da privatização da TAP permite ao Ministro da Economia afirmar:

-“Voos para as comunidades lusófonas? Faz parte do caderno de encargos".

É público e notório que, entre outros casos, a TAP não voa para Canadá e África do Sul apesar de nesses países haver uma grande comunidade emigrante. E a TAP não voa porque as rotas não são rentáveis.

 

A Bem da Nação

Lisboa 10 de Dezembro de 2014

Sérgio Palma Brito

 

Notas

(1)Ver o post mais recente e o link para os outros: Privatização da TAP – Acessibilidade aérea a Portugal e TAP,


(2)Citamos o Dinheiro Vivo: “Para enviar os constrangimentos de tesouraria registados há dois anos, na última tentativa de privatização, a TAP tomou algumas medidas, nomeadamente a renegociação de acordos com instituições financeiras e alguns ajustes na oferta de destinos, como é o caso da rota Funchal-Londres”.


(3)Lusa, às 12:44 de 14 de Novembro de 2014 e

(4)Ler mais: http://expresso.sapo.pt/ligacoes-aereas-lisboa-bissau-vao-ser-retomadas-atraves-da-euroatlantic-airways=f895985#ixzz3LVpukvLT

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