Taxistas do Aeroporto da Portela – Defender tradição mais do que centenária

Associações querem cadastro para taxistas do aeroporto - Portugal - DN



Não compreendemos e ainda menos aceitamos, a proposta das Associações de Taxistas para “regulamentar o acesso ao aeroporto e ao porto de Lisboa de forma a que só ali prestem serviço profissionais que cumpram um código de conduta e tenham um cadastro actualizado”.

Antes de tudo o mais, a constitucionalidade desta cena é duvidosa, mas deixemos este tema para os Constitucionalistas.

Não compreendemos que as Associações alimentem a ilusão de, neste Portugal em que vivemos, alguém conseguir ‘disciplinar’, ‘pôr na ordem’ ou “reduzir a nada’ um lóbi tão forte como o dos Taxistas do Aeroporto de Lisboa.

Não aceitamos que queiram pôr cobro ao que é uma tradição mais do que centenária e parte do património cultural do povo português (com minúsculas). Estamos certos que, se o Governo legislar nesse sentido, a Oposição garantirá a reposição destes direitos adquiridos.


Dito isto, façamos um percurso em homenagem aos pioneiros do lóbi dos Taxistas do Aeroporto de Lisboa da actualidade.


*Depois da Implantação da República
Os problemas são anteriores à República, mas ganham uma dimensão nova com a criação da Repartição de Turismo, em 1911. Há uma instituição pública que assume a responsabilidade pela qualidade do serviço que lhes é prestado.   

Por essa altura, a maioria dos estrangeiros de visita ao Continente continua a utilizar o transporte por barco a vapor e o Porto de Lisboa. Esta concentração de visitantes e
excursionistas conhece alguns problemas.



*”uma fama que não é nada lisonjeira para nós”
No Relatório de Repartição de Turismo de Junho de 1913 podemos ler:

-“Não devemos ocultar que o porto de Lisboa goza, pelo que diz respeito ao serviço dos catraeiros, bagageiros, intérpretes, corretores, chauffers, etc., uma fama que não é nada lisonjeira para nós. Contra estes indivíduos, na sua maioria desconhecedores em absoluto dos deveres que lhes incumbem, tem chovido nesta Repartição contínuas queixas, sabendo nós, de fonte certa, que inúmeros estrangeiros deixam o nosso porto bastante descontentes pelas extorsões de aqui são vítimas. No porto de Lisboa comete-se por parte de muitos desses indivíduos que, no seu próprio interesse, deveriam ser os primeiros a inspirar confiança aos serviços que prestam, toda a sorte de abusos que vão desde a venda da estampilha postal pelo dobro e quádruplo do seu valor, golpe quase sempre despedido contra o pobre emigrante, até a exigência brutal de quantias exorbitantes pelo mais simples serviço prestado ou seja pelo chauffeur ou seja pelo catraeiro, ou por qualquer
outro, com menoscabo das tabelas por que se devem regular ou, quando não as há, ultrapassando os limites do justo e do razoável.” (*).



*Polícia de Turismo
Em 1912, são legalizadas as primeiras Actividades Turísticas do Turismo Português (Guias e Guias Intérpretes) e chega a estar prevista a criação de uma Polícia de Turismo:

-“Para policiar o serviço do cais torna-se indispensável, pelo menos, dez guardas. Esses guardas deverão constituir um corpo especial de polícia, denominada, por exemplo, polícia de turismo, e dele deveriam fazer parte, visto que os há nestas condições, guardas que conheçam línguas estrangeiras. O serviço deste corpo, composto de guardas experimentados e conhecedores do metier, seria o mais
possível proveitoso para o turismo.”.


(*)Relatório dos Serviços da Repartição de Turismo de Junho de 1912 a Junho de 1913, p.15 e 16.


A Bem da Nação

Albufeira 16 de Março de 2014

Sérgio Palma Brito

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