Agências de Viagens e Distribuição de Transporte Aéreo e Hotelaria


*Relação Entre Agências de Viagens Companhias Aéreas e Hotéis   
No recente Congresso da APAVT, o Presidente Pedro Costa Ferreira abordou o aspecto mais material da relação Entre Agências de Viagens Companhias Aéreas e Hotéis: as comissões que estes pagam aquelas.

Sobre este tema, dispomos de uma síntese das suas declarações (1):

-“Companhias aéreas e hotelaria estão “enganados” quando ‘contabilizam’ as comissões pagas às agências de viagens como “um custo adicional”, porque, na realidade, são as agências que lhes propiciam receita ao fornecer-lhes clientes”,

-“É exactamente o contrário [de um custo adicional], caros parceiros de negócio”, frisou Pedro Costa Ferreira, reclamando que as comissões que pagam aos agentes de viagens são “para terem acesso a clientes e, por conseguinte, para terem acesso a uma margem”.

Estas afirmações devem ser lidas no contexto da evolução

-do Mercado Europeu da Viagem de Lazer, e

-da Procura no Mercado do Turismo Emissor a partir de Portugal.

*Tendência Para a Desintermediação no Mercado Europeu da Viagem de Lazer
A tendência para a Desintermediação nas vendas das Companhias Aéreas e Hotéis é uma tendência identificada desde pelo menos 2006:

-“Crescente desintermediação na distribuição de produtos turísticos como consequência da maior informação sobre operadores e destinos e do aparecimento do conceito best fare.” (2).

Este tema foi abordado em Post recente e a ele voltaremos quando os números de 2013 estiverem disponíveis. O Gráfico 1 ilustra a evolução 2009/2011 da repartição das vendas do mercado das viagens de lazer nos países do TOP 10 da Thomas Cook (3).

Gráfico 1 – Mercado das Viagens de Lazer nos Países do TOP 10 da Thomas Cook
(mil milhões de Libras)
 

Fonte: Elaboração própria com base em Thomas Cook Group, plc, Annual Reports &   Accounts, com base em Euromonitor

Com base nestes números:

-o valor das vendas da Intermediação cai ligeiramente, mas o da Venda Directa cresce significativamente.

*Facturação das Agências de Viagens e Operadores Turísticos
Começamos pelos números (4). Em 2012

-o volume de negócios das agências de viagens situou-se nos € 1510 milhões, uma descida de cerca de 10% face a 2011,

-a facturação dos grossistas de viagens, diminuiu aproximadamente 12%, situando-se nos € 350 milhões.

Em boa teoria, os 350 milhões estão incluídos nos 1.510 milhões do volume de negócios das agências de viagens.
 
Em 2013, os indicadores correspondentes mostram uma descida da procura prolongada. As previsões para o final do ano são:

-as receitas das agências de viagens sejam de € 1400 milhões, menos 7% do que em 2012,

-os operadores turísticos registarão uma quebra de 8%, correspondente a um montante de € 280 milhões.

Esta diminuição das vendas resulta de duas tendências e não dispomos de informação sobre o efeito de cada uma:

-“O aumento do desemprego e a contracção da despesa das famílias e das empresas são responsáveis pela redução substancial do orçamento destinado a viagens. Constata-se uma orientação crescente da procura para destinos de menor custo e mais próximo, assim como para estadas mais curtas.

-Para além disso, o sector enfrenta uma desintermediação crescente, pelo que uma percentagem, cada vez mais alta de clientes particulares e empresariais compra directamente os bilhetes de transporte, as reservas hoteleiras e outros serviços turísticos através do site das companhias fornecedoras destes serviços.”.

*O Modelo e a Realidade
O modelo é simples e exige abordagem objectiva pelos parceiros envolvidos:

-Companhias Aéreas e Hotéis utilizam vários Canais de Distribuição e com eles criam parcerias mais ou menos sofisticadas (B2B ou B2B2C) e recorrem a critérios objectivos para escolher quais utilizam.

A intervenção do Presidente da APAVT assenta num pressuposto pouco glorioso mas porventura real:

-haver hoteleiros que ainda não têm uma noção clara sobre a escolha de Canais de Distribuição no novo Mercado Europeu da Viagem de Lazer e que são sensíveis a um apelo deste tipo, assumindo nós que as companhias aéreas estão todas acima deste patamar de gestão.

*Nota Final
No Portugal da actualidade e no do futuro de vários anos, não é fácil ser agente de viagens vocacionado para o Turismo Interno e Emissor, como acontece com a maioria das Agências de Viagens.

No Turismo Interno, está em causa

-na venda de Estadias, ser superior à Venda Directa por Hotéis e, sobretudo por ‘Booking & Similares’.

No Turismo Emissor, a concorrência agrava-se:

-para além de ‘Booking & Similares’, há argumentos novos a favor da Venda Directa por Hotéis & Alojamento Diversificado, mais Companhias Aéreas, Rent a Car ou Cruzeiros – a Internet, com tudo o que representa, altera profundamente a Distribuição dos serviços de viagens.

Terminamos com uma nota pessoal, porventura significativa. Depois de sermos cliente fiel de agências de viagens de lazer, deixámos de recorrer aos seus serviços, mesmo para viagens complicadas, porque a Internet abre a informação e a escolha a um nível que nem o nosso excelente agente de viagens consegue atingir.

Não contribuímos para a cena de “O Fim das Agências de Viagens”, porque há espaço para adaptação às novas condições do mercado e muitas saberão disso tirar partido. E também porque já desde há muitos anos que ouvimos o anúncio, claramente prematuro, da morte das Agências de Viagens.

A Bem da Nação

Albufeira 8 de Dezembro de 2013

Sérgio Palma Brito

Notas
(1)Ver Presstur ‘Agências de viagens reclamam estatuto de fonte de receitas para aviação e hotelaria’ http://www.presstur.com/site/news.asp?news=45209

(2)Roland Berger, Strategy Consultants, Construir o futuro do sector do turismo em Portugal, Lisboa 2 de Novembro de 2006, Encontro Thinknomics06.

(3)O leitor mais atento percebe que temos acesso aos números do Euromonitor a partir dos Relatórios da Thomas Cook e não directamente.

(4)Ver ‘Blog Informa D&B - Informação sobre empresas portuguesas’, com base em DBK ‘Operadores Turísticos e Agências de Viagens’


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