Receitas de Turismo na Balança de Pagamentos


O presente post tem três objectivos:

-mostrar que parte importante da Receita da rúbrica de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos resulta de Consumo Turístico dos cerca de 5 milhões de Turistas que optam por utilizar o Alojamento Turístico Não Classificado,

-contribuir para que Politica de Turismo passe a integrar todos os Tipos de Alojamento do Conceito Abrangente de Alojamento Turístico [ver Glossário e detalhe no Ponto 3 e Anexo 3 do Relatório], de modo a reforçar s Receita de Turismo na Balança de Pagamentos,

-mostrar que a Receita do Turismo na Balança de Pagamentos vai para além da Receita da rúbrica de Viagens e Turismo (1).
Este post é o Segundo (Primeiro, Segundo , Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto) de uma série sobre temas abordados no Relatório:

-Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia
http://sergiopalmabrito.blogspot.pt/2013/07/quantificar-contribuicao-do-turismo.html

O Próximo post é sobre o Mercado Emissor de França e apresenta exemplos que ilustram os temas dos dois posts anteriores.

As remissões entre chavetas referem este Relatório, excepto se outro documento for mencionado. Um Glossário facilita a leitura do post.

1.Balança de Pagamentos e Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia

*Estimativa de Transferências de Recursos do Exterior
O Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia pela Conta Satélite deve ser completado com informação da Balança de Pagamentos.

A Balança de Pagamentos é elaborada, desde há dezenas de anos, pelo Banco de Portugal, segundo regras definidas pelo FMI. Os seus indicadores inspiram uma confiança acima da média, o que não exclui a avaliação crítica dos valores que apresentam. 
A capacidade do Turismo gerar Transferência de Recursos do Exterior é medida pela Balança de Pagamentos e é mais vasta do que a da tradicional rubrica de Viagens e Turismo [ver ponto 4].

*Prioridade Politica da Transferência de Recursos do Exterior
A importância dos indicadores da Balança de Pagamentos é directamente proporcional à Prioridade Politica dada à Transferência de Recursos do Exterior, em função do deficit externo do País. É o caso em 1964, quando o Turismo é integrado nos Trabalhos Preparatórios do Plano Intercalar de Fomento para 1965-1967:

-“houve um critério que esteve sempre presente: o de que se deve dar prioridade às medidas destinadas a fomentar o turismo de estrangeiros, mesmo quando isso implique um certo sacrifício nas actuações orientadas no sentido do turismo interno.” (2).
Apesar da gravidade do desequilíbrio nos pagamentos do País com o Exterior, ainda não encontrámos determinação idêntica à de 1964.

*Do PENT a Orientações Estratégicas Para o Turismo em Portugal
Em dia que esperamos não demore muito,

-o Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT) dará lugar a um conjunto de Orientações Estratégicas, concertadas entre Intervenção Pública e Iniciativa Privada, num processo aberto a Universidades e Opinião Pública,
-a Prioridade das prioridades às Receitas do Turismo na Balança de Pagamentos [ver ponto 7.3 do Relatório e ponto 4] será partilhada pela Politica de Turismo e Iniciativa Privada.

Até lá, contentamo-nos com um indicador parcelar (a rúbrica de Viagens e Turismo) e elaborado em condições questionáveis. Com efeito,

-no seguimento do Protocolo de 2004 entre DGT e INE, passam a ser feitos dois inquéritos de importância relevante para a estimativa da Receita de Viagens e Serviço: Inquérito ao Movimento de Pessoas nas Fronteiras e Inquérito aos Gastos Turísticos Internacionais,
-estes Inquéritos não se realizam desde há anos, com prejuízo da qualidade da informação utilizada na elaboração da Conta Satélite do Turismo [ver pontos 1.4 e 6.7 e Anexo ao presente Relatório 1] e da rúbrica Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos.

*Receitas do Turismo na Balança de Pagamentos
No presente post, iniciamos a análise de quatro temas:

-o conceito de Turismo da Balança de Pagamentos é o definido pelas Instituições Internacionais e inclui receitas geradas pelo Consumo Turístico dos cerca de 5 (cinco) milhões de Turistas que escolhem utilizar o Alojamento Não Classificado [ver Post],

-repartição da receita da rúbrica de Viagens e Turismo entre Alojamento Classificado e Não Classificado,
-a Receita do Turismo na Balança de Pagamentos vai para além da Receita da rubrica de Viagens e Turismo,

-dada a sua fiabilidade e padronização internacional, indicadores da Balança de Pagamentos podem ser utilizados em Benchmarking e Rankings do Turismo Internacional.

2.A Rúbrica Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos
*Viagens e Turismo – Débito e Crédito
O Gráfico 1 ilustra a evolução 1996/2012 das Receitas e Despesas da rubrica de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos. Sem cercear a liberdade de circulação dos Residentes em Portugal que dela dispõem (a grande maioria não viaja para o estrangeiro), há duas realidades a considerar:

-parte da Contribuição do Turismo Para a Economia é «Importação de Turismo», em Viagens de Negócio ou, sobretudo, de Lazer,
-parte da Oferta de Turismo desempenha a função de Substituição de Importações.

Gráfico 1 – Viagens e Turismo na Balança Corrente (1996/2012)



Fonte: Elaboração própria com base em Banco de Portugal (BPstat)
A Receita atinge quase nove mil milhões de euros, com tendência a subir. É um Indicador da maior importância e a exigir mais atenção.

A Despesa é de cerca de três mil milhões e dá uma ideia da importância da concorrência, no mercado interno, à Oferta de Turismo do País. A Despesa evolui com a Economia: depois de crescimento lento (1996/2008), desce em 2008/2009 e estabiliza entre 2010/2012, no valor de 2008.
Não consideramos a Balança Turística, pois é um conceito que apenas pode interessar a uma macro Tesouraria do Banco de Portugal. É um indicador que resulta de uma visão do Turismo virada para “o Sector do Turismo” e não para o Valor criado pela Procura de Viagens e Turismo.

*Receita de Viagens e Turismo em Percentagem do PIB
A Receita de Viagens e Turismo não é “um contributo para o PIB”, mas é possível analisar a evolução do seu montante em percentagem do PIB. O Gráfico 2 mostra que esta percentagem varia entre 4% e 5% do PIB, com tendência para crescer por a Receita aumentar e o PIB diminuir.

Gráfico 2 – Receita de Viagens e Turismo em Percentagem do PIB



 Fonte: Elaboração própria com base em BPstat e INE

3.Industria da Hotelaria na Rubrica de Viagens e Turismo
*Recordar a Macroeconomia e a Microeconomia
Há duas realidades diferentes:

-a Contribuição do Turismo Para a Economia situa-se ao nível da Macroeconomia, resulta das actividades dos Turistas alojados no Alojamento Classificado e Não Classificado, é quantificada pela Conta Satélite do Turismo e por indicadores da Balança de Pagamentos, ambas ligadas ao Sistema das Contas Nacionais,
-a Industria da Hotelaria tem dimensão qualitativa relevante, mas situa-se ao nível da Microeconomia e de uma Industria, assenta nas actividades dos Turistas alojados no Alojamento Classificado e é analisada por técnicas como a Análise Estratégica de Michael Porter – a Conta Satélite do Turismo não prevê Quantificar a sua Contribuição específica (3) Para a Economia.

Salvo melhor opinião, esta é a realidade económica a que nos devemos cingir. Como vimos [ponto 2.1 do Relatório], é inútil alimentar o equívoco de identificar a Industria da Hotelaria com Turismo, quando está em causa Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia.

*Rubrica de Viagens e Turismo da Balança de Pagamentos
Está em causa conhecer a parte da Receita de Viagens e Turismo que resulta do Consumo Turístico, nos empreendimentos ou fora deles, de Hóspedes Não Residentes alojados pela Industria da Hotelaria.

Começamos pelo Gráfico 3, que mostra a evolução 2001/2012 de

-Receita de Viagens e Turismo, na Balança de Pagamentos,
-Proveitos Totais do Alojamento Turístico Classificado, de Não Residentes e de Residentes.

A percentagem destes Proveitos Totais na Receita de Viagens e Turismo varia entre 25.3% (2003) e 21.6% (2012). Esta percentagem deve ser corrigida por
-retirar aos Proveitos Totais a parte que resulta de Residentes em Portugal (Alojamento, Alimentação e Bebidas, ocupação de salas e utilização de serviços) – o actual Inquérito à Permanência de Hóspedes e Outros Dados na Hotelaria não dá esta informação,

-adicionar aos Proveitos Totais o Consumo Turístico de Hóspedes Não Residentes fora do Empreendimento em que estão alojados – como vimos no Ponto 1, foram descontinuados os dois inquéritos que poderiam dar esta informação.

Dito isto, é possível reconhecer que
-por si só, a Industria da Hotelaria não pode influenciar uma variação importante das Receitas de Viagem e Turismo da Balança de Pagamentos,

-para esse efeito, há que contar com o Consumo Turístico dos mais de cinco milhões de Turistas que optaram pelo Alojamento Não Classificado.
Gráfico 3 - Receitas de Viagens e Turismo e Proveitos Totais no Alojamento Turístico Classificado (2002/2012)
(euros)

 Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas do Turismo e BPstat

*Contradição na Análise da Evolução Recente do Indicador
O Gráfico 4 ilustra a evolução 2008/2012 da Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos e os Proveitos Totais do Alojamento Classificado.

Gráfico 4 – Receita de Viagens e Turismo e Proveitos Totais do Alojamento Classificado
(milhares de milhões de euros)



 Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo e Banco de Portugal - BPStat
Política de Turismo e empresas da Industria da Hotelaria divergem, quando a Politica justifica “o Turismo não estar em crise” com o crescimento da Receita de Viagens e Turismo e a Industria interroga “Como pode o Turismo estar bem, se as nossas empresas não estão?”.

No Gráfico 4, a divergência na evolução 2008/2009 reforça a divergência entre o crescimento da Receita e a estagnação dos Proveitos.
A querela entre Politica de Turismo e parceiros da Iniciativa Privada confirma a necessidade de qualificar o Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia.

4.O Turismo em Outras Rúbricas da Balança de Pagamentos
*Outras Receitas de Turismo
O Conceito Abrangente de Turismo gera mais receitas da Balança de Pagamentos, para além das da rúbrica de Viagens e Turismo (4).

Estas receitas devem ser explicitadas e utilizadas pela Politica de Turismo e Iniciativa Privada.

*Transportes
A rubrica “Transportes” integra, entre outros, Transportes Marítimos, Aéreos, Ferroviários e Rodoviários.

Os Transportes Aéreos são particularmente relevantes, e justificam uma divulgação adequada para conhecermos actividade exportadora e importadora da TAP. Com efeito, “Os serviços de transporte internacional de passageiros entre uma determinada economia e o exterior deve ser registados na rubrica de “Transportes”, por modo de transporte, na respectiva sub-componente “Passagens” (5). A título de ilustração, citamos:

-“Em 2011, o Grupo TAP viu reforçado o posicionamento do seu contributo para o volume das exportações nacionais, com uma contribuição global de EUR 2.063,5 milhões, em vendas e prestações de serviços no mercado externo, mais 15,7% que em 2010.” (6).
O valor do “contributo para o volume das exportações nacionais” deve ser temperado pelo da Despesa com Importações, mas uma coisa é certa: não pode ser ignorado e deve ser melhor conhecido.

*Investimento de Não Residentes em Segunda Residência
Citamos o Manual de Procedimentos do Banco de Portugal:

-“722.Investimento imobiliário do exterior em Portugal Operações de aquisição/alienação, por não residentes, de bens imobiliários situados em território nacional. Não se inclui nesta rubrica a aquisição/alienação de bens imobiliários por empresas não residentes, cujo registo deve ser efectuado nas rubricas apropriadas respeitantes a operações de investimento directo, bem como a aquisição/venda de terrenos situados em território nacional por embaixadas e consulados estrangeiros,”.

A questão que se põe é a da viabilidade do Banco de Portugal divulgar informação consistente que permita conhecer a compra de Segundas Residências por Não Residentes e o valor das Transferências para a sua Administração.

*Imigração de Reformados
A Imigração de Reformados, antes da frágil entrada na agenda política, é um processo económico, social e cultural já no terreno e que se pode desenvolver, assim haja uma política adequada.

Está em causa Residência Permanente, o que escapa à definição de Turismo, mesmo no Conceito Abrangente. Dito isto, o processo não escapa nem à Economia nem à Politica e o Turismo é a tutela natural desta actividade. Estão em causa Transferências do Exterior, para financiar a residência permanente de Reformados ex Não Residentes.

5.Porventura, o Mais Interessante dos Rankings  

*O Mais Fácil e Fiável dos Rankings?
A conjugação do Protagonismo Politico com o Posicionamento Light do Turismo [ver ponto 1.1.4 do Relatório] alimenta a ideia de Portugal, “Grande Potência de Turismo” e do “Ranking de Portugal” no número de Entradas de Turistas Internacionais. O indicador do Número de Turistas Internacionais tem pouco significado e a sua quantificação levanta dúvidas em muitos países, entre os quais Portugal.

Em alternativa, a Receita de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos tem importante significado económico e, como vimos, elevada fiabilidade. A seguir, damos pequena ideia do que investigação profissional pode fazer, com base na Receita de Viagens e Países e Percentagem desta Receita no PIB, para utilmente comparar o Turismo de vários países.

O Gráfico 5 ilustra as Receitas de Viagens e Turismo em vários países da Europa, no ano de 2011. Em 2011, as Receitas de Portugal ainda são inferiores às da Grécia. Chipre não é comparável, a Croácia aproxima-se de Portugal e a Turquia está a meio caminho entre os “médios” os “grandes”.
Gráfico 5 - Receitas de Viagens e Turismo em Alguns Países

(milhares de milhões de euros)

Fonte: Elaboração própria com base em Eurostat (7) Nota – Turquia a valor de 2010

O Gráfico 6 completa a informação do Gráfico 7.6 e ilustra a evolução da Receita de Viagens e Turismo por alguns países nos anos 2001/2006/2011.
Gráfico 6 – Evolução das Receita de Viagens e Turismo em Alguns Países

(milhares de milhões de euros)

Fonte: Elaboração própria com base em Eurostat (9)
O crescimento da Receita na Turquia não é surpresa. O crescimento de Espanha é a assinalar, por se tratar de um mercado considerado “maduro”. O crescimento de Portugal é moderado e melhor do que a estabilidade da Grécia e da Croácia (sem o número de 2001).

A Bem da Nação
Albufeira 1 de Agosto de 2013

Sérgio Palma Brito


Notas
(1)Para o leitor menos familiarizado, citamos a estrutura da Balança de Pagamentos (BPstat)

*Balança Corrente
-Bens

-Serviços

-Rendimentos
-Transferência Correntes

*Balança de Capital
*Balança Financeira

*Erros e Omissões

Viagens e Turismo é uma das rubricas de Serviços da Balança Corrente. No ponto 4, analisamos o Turismo em outras rúbricas da Balança de Pagamentos.
(2)Presidência do Conselho, Relatório Preparatório do Plano de Investimentos Para 1965/1967, Relatório do Grupo de Trabalho nº 13, Turismo.

(3)Na elaboração da Conta Satélite do Turismo a Actividade/Indústria Hotéis e Similares [Gráficos 6.4 e 6.7 do Ponto 7 do Relatório] tem âmbito diferente do dos Empreendimentos Turísticos do Alojamento Classificado.
(4)A rubrica de Viagens e Turismo ainda inclui as verbas referentes a “296 - Trabalhadores sazonais e de fronteira”. O valor envolvido poder não ser significativo, mas exige correcção, antes de utilizar estes números no contexto da Contribuição do Turismo Para a Economia.

(5)João Cadete de Matos, Informação estatística de Viagens e Turismo na Balança de Pagamentos, Banco de Portugal, Estatísticas do Turismo - Sessão de Apresentação – Lisboa INE 11.04.07.
(6)Grupo TAP, Relatório e Contas referente a 2011, p. 30.

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