Entre 2009/2011, a percentagem de Residentes em Portugal que fez uma Viagem Turística no País, de «pelo menos uma noite», baixa de 31.5% para 28.7% (1). Em Agosto de 2012, o «Direito a Férias fora de casa» está fora de uma agenda social dominada por necessidades mais básicas.
Entre 2009/2010, o número de Dormidas durante as Viagens Turísticas cai 16%, mas, entre 2010/2011, cresce 2.5%. Este crescimento é de 8.6% no Motivo Profissional, de 7.9% no Motivo Visita a Familiares e Amigos e de 0.5% no Motivo Lazer – na realidade as Viagens de Lazer estagnam.
Com efeito, os Residentes em Portugal viajam por três Motivos: Lazer, Visitas a Familiares e Amigos e Negócios representam 94.7% do número de Total de Dormidas. O número de Dormidas durante as Viagens por Motivo de Saúde e Religião representam apenas 1.2% do Total.
Durante as Viagens, o Meio de Alojamento Turístico (2) mais utilizado é o Alojamento Gratuito em Casa de Familiares e Amigos (48.1%), seguido da Casa de Férias utilizada pelo próprio (23.9%), pelos Estabelecimentos Hoteleiros (13.1%) e pelos Apartamentos/Casas arrendados (9.7%).
A análise por Motivo e Destino mostra a importância da Região Centro (29.1% das Dormidas). O Algarve domina nas Dormidas nas Viagens por Motivo de Lazer. Nas Viagens por Motivo de Visita a Familiares e Amigos, Centro e Norte são os Destinos Regionais mais importantes.
As Dormidas no Alojamento Turístico Privado representam 82.8% do Número Total de Dormidas em Todos os Meios de Alojamento. Nas Dormidas no Alojamento Turístico Privado, o Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos representa 58.1%, a Casa de Férias dos Próprios 13.2% e os Apartamentos/casas arrendados 11.8%.
O número das Dormidas em todos os Meios de Alojamento Turísticos é quatro vezes mais importantes do que o das Dormidas no Alojamento Turístico Classificado.
Em 2011, há 422 milhares de Viagens ao Estrangeiro por Residentes em Portugal, organizadas com recurso a Agência de Viagens ou Operadores Turísticos. Destas, 292 milhares são organizadas “parcialmente” e 129 milhares são “tudo incluído” (3). Entre 2010/2011, o número de Viagens com “tudo incluído” passa de 187 a 129 milhares, uma queda de 31.0%.
O presente post é apoiado por Documento de Trabalho, com os Quadros de apoio aos Gráficos e elementos da Metodologia do INE (https://docs.google.com/open?id=0Bwm0NmwjZfYidlpBLWo3VmlKNEk).
a) Turistas, Viagens e Dormidas no Destino Portugal
O Gráfico 0 ilustra a percentagem da População Residente que faz pelo menos uma Viagem Turística em Portugal, por ano. Dois comentários:
-mesmo no último ano de «viver bem em Portugal», apenas 31.5 dos Residentes no País fazia uma Viagem Turística,
-a partir de 2010, há uma queda brusca, que se mantém em 2011.
Gráfico 0 – Percentagem da População Residente que, por ano, faz pelo menos uma Viagem Turística em Portugal
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
Em 2007, ainda era obrigatório, justo e possível fazer uma referência ao Direito às Férias, de que os Congés Payés do Governo da Frente Popular, na França de 1936, eram o ícone. Em 2012, continua a ser justo fazer esta referência, mas a degradação da situação económica e social torna-a algo deslocada.
*2011 – Turistas, Viagens e Dormidas de Residentes em Portugal, no Destino Portugal (2009/2011)
O Gráfico 1 ilustra a evolução 2009/2011 do número de Turistas, Viagens e Dormidas de Residentes em Portugal, no Destino Portugal. O Quadro 1 quantifica a evolução ilustrada pelo Gráfico e mostra que o número de Dormidas
- diminui 19% entre 2009/2010,
- cresce ligeiramente (2.5%) entre 2010/2011.
Se recordarmos a evolução do número de Dormidas durante as Viagens Turísticas ao Estrangeiro pelos Residentes no Reino Unido, encontramos um padrão semelhante, mas com a queda a ter lugar entre 2008/2009 (ver a introdução de http://sergiopalmabrito.blogspot.pt/2012/07/travel-trends-2011-viagens-ao.html). É sabido como, em Portugal, o Governo ajudou a que boa parte da população ainda conseguisse iludir a crise durante o ano de 2009 – por coincidência, ano de Eleições.
Gráfico 1 – Turistas, Viagens e Dormidas de Residentes em Portugal, no Destino Portugal (2009/2011)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
Quadro 1 - Turistas, Viagens e Dormidas de Residentes em Portugal, no Destino Portugal
2009 2010 2011
Turistas 3.348 3.044 3.060
Viagens 16.158 13.764 13.727
Dormidas 64.218 53.964 55.286
*Dormidas por Motivos das Viagens Turísticas dos Residentes em Portugal e com Destino Portugal (2009/2011)
Consideramos apenas as Viagens Turísticas pelos três principais Motivos: Lazer, Recreio ou Férias; Visita a Familiares e Amigos; Negócios e Profissionais. Em 2011, a soma das Dormidas durante estas Viagens representa 94.7% do número total de Dormidas.
O INE quantifica ainda os Motivos Saúde e Religião (649 milhares) que representam 1.2% do Total de Dormidas, e Outros Motivos (2.064 milhares) que representam 3.7% do Total de Dormidas.
O Gráfico 2 ilustra a evolução 2009/2011 do Número de Dormidas dos principais Motivos de Viagens. O padrão é o mesmo do identificado antes: queda importante entre 2009/2010 e subida ligeira entre 2010/2011.
Entre 2010/2011, a subida é 8.6% no Motivo Profissional, de 7.9% no Motivo Visita a Familiares e Amigos e de 0.5% no Motivo Lazer.
Gráfico 2 – Dormidas por Motivos das Viagens Turísticas dos Residentes em Portugal e com Destino Portugal (2009/2011)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
*Importância Real e Crescente de «Familiares e Amigos»
Habituados a reduzir a análise do Turismo aos Hóspedes e Dormidas no Alojamento Turístico Classificado, não damos a atenção a outras realidades da Economia do Turismo. É, nomeadamente, o caso dos «Familiares e Amigos», que surgem ligados a
- Viagens Turísticas, cujo Motivo é a Visita a Familiares e Amigos,
- Meio de Alojamento Turístico Privado: Alojamento Gratuito em Casa de Familiares e Amigos.
Estas duas noções,
- estão fortemente interligadas: quem Visita Familiares e Amigos tem tendência a utilizar o Alojamento Gratuito em Casa de Familiares e Amigos,
- conhecem Novas Dinâmicas, como é o caso das Viagens Turísticas Internacionais pela Diáspora, nas quais os Meios de Alojamento Turístico utilizados tendem a ser, também, o Alojamento Turístico Classificado.
As Viagens cujo Motivo é a Visita a Familiares e Amigos
- têm impacte significativo na Economia Local e Regional, seja em Turismo Interno ou Turismo Receptor,
- representam, no caso do Turismo Receptor, um Segmento relevante da Procura por Transporte Aéreo,
- exigem uma atenção mais aberta, qualificada e «amiga», que substitua o seu tradicional ignorar/ostracizar pela Visão Redutora de Turismo.
*Dormidas por Motivo da Viagem e Principal Meio de Alojamento Turístico Utilizado (2011)
O Gráfico 3 ilustra, em 2011, as Dormidas por Motivo de Viagem e Principal Meio de Alojamento utilizado.
O INE considera dois Meios de Alojamento Turístico Colectivo e quatro de Alojamento Turístico Privado, mas, no Gráfico não incluímos os Quartos Arrendados em Casa Particular. No Gráfico, as designações utilizadas pelo INE são:
- Estabelecimentos Hoteleiros e Similares (4),
- Outros Estabelecimentos de Alojamento Colectivo.
- Apartamentos/Casas arrendados a particulares ou a agências profissionais;
- Casa de Férias utilizada pelo proprietário e família;
- Alojamento fornecido gratuitamente por familiares ou amigos.
O Gráfico 3 confirma a importância dos três Meios do Alojamento Turístico Privado e a impossibilidade de serem ignorados pela Politica de Turismo e por quem analisa a Economia do Turismo. O detalhe por Destinos Regionais reforça esta afirmação [ver a seguir].
O Meio de Alojamento Turístico mais utilizado é o Alojamento Gratuito em Casa de Familiares e Amigos (48.1%), seguido da Casa de Férias utilizada pelo próprio (23.9%), pelos Estabelecimentos Hoteleiros (13.1%) e pelos Apartamentos/Casas arrendados (9.7%).
Gráfico 3 – Dormidas por Motivo da Viagem e Principal Meio de Alojamento Turístico Utilizado (2011)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
b) Dormidas Durante as Viagens em Portugal, por Destinos Regionais
*Dormidas por Motivo da Viagem e DestinoO Gráfico 4 ilustra o número de Dormidas por Motivo da Viagem e Destino, em 2011.
No caso das Dormidas durante as Viagens por Motivo de Visita a Familiares e Amigos, os Destinos Regionais mais importantes são Centro e Norte e o Algarve é o menos relevante de todos os Destinos Regionais.
No caso das Dormidas durante as Viagens por Motivo de Lazer, o Algarve domina, o que parece óbvio, mas o Centro surge com um destaque a exigir análise detalhada.
A repartição do Total das Dormidas por Destino Regional reserva surpresas. A ordem dos destinos é Centro (29.1%), Algarve (23.7), Norte (19.9%), Lisboa (14.0%) e Alentejo (10.2%).
A Região Centro é exemplo da importância dos Meios de Alojamento Turístico, utilizados por quem não se aloja no Alojamento Classificado.
Gráfico 4 – Dormidas por Motivo da Viagem e Destino
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
*Dormidas, em Viagem de Lazer, por Duração da Viagem e Destino (2011)
O Gráfico 5 ilustra o número de Dormidas, em Viagem de Lazer, por Duração da Viagem e Destino (2011). Uma análise mais fina das Viagens dos Residentes em Portugal implica considerar a duração da Viagem. A importância das Dormidas durante as Viagens por Motivo Lazer, nos Meios de Alojamento Turístico do Algarve, é mais evidente nas Viagens de duração “quatro e mais noites”.
Gráfico 5 – Dormidas, em Viagem de Lazer, por Duração da Viagem e Destino (2011)
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
*Dormida por Motivo de Visita a Familiares e Amigos, por Duração da Vigem e Destino (2011)
O Gráfico 6 ilustra o número de Dormidas por Motivo de Visita a Familiares e Amigos, por Duração da Vigem e Destino. Constatamos
- a irrelevância do Algarve,
- de novo, o lugar de destaque do Centro,
- em todos os Destinos, excepto no Algarve, uma diferença considerável entre o número de Viagens de “pelo menos uma noite” e o de Viagens de “quatro e mais noites”.
Gráfico 6 – Dormida por Motivo de Visita a Familiares e Amigos, por Duração da Vigem e Destino
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
c) Relação com Alojamento Turístico Classificado e Agências de Viagens
*Dormidas em Todos os Meios de Alojamento
O Gráfico 7 ilustra as Dormidas em Todos os Meios de Alojamento Turístico.
No caso do Alojamento Turístico Privado:
- o Total das Dormidas representa 82.8% do Número Total de Dormidas em Todos os Meios de Alojamento,
- no Alojamento Gratuito por Familiares e Amigos representa 58.1%, a Casa de Férias dos Próprios 13.2% e os Apartamentos/casas arrendados 11.8%.
No caso do Alojamento Turístico Colectivo,
- o Total das Dormidas (9.5 milhares de Dormidas) representa os restantes 17.2% do Número Total de Dormidas em Todos os Meios de Alojamento.
Gráfico 7 – Dormidas em Todos os Meios de Alojamento
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
*Dormidas em Alojamento Turístico Classificado e em Todos os Meios de Alojamento: Total Nacional e Destinos Regionais
O Gráfico 8 compara o Número de Dormidas (Total do País e detalhe por Destino Regional) segundo os dois grandes Inquéritos do INE
- o dirigido à Procura: Inquérito às Deslocações dos Residentes,
- o dirigido à Oferta: Inquérito à Permanência de Hóspedes e Outros Dados na Hotelaria.
Para além destes dois, falta o INE realizar o Inquérito às Deslocações dos Não Residentes em Portugal (5). Este Inquérito é indispensável para conhecermos os Não Residentes que visitam Portugal: entre outros, o “quem são, como se alojam, o que fazem, quanto gastam”.
Citamos duas realidades a exigir serem melhor conhecidas:
- a Procura existente e a potencial da Diáspora Portuguesa,
- quantos são e o que fazem os Visitantes Independentes.
Sobre estes últimos, recordamos as Dormidas dos Residentes no Reino Unido durante as Viagens a Portugal. Há 6.259 milhares de Dormidas no Alojamento Classificado e 18.219 Dormidas, de acordo com o International Passenger Survey, em todos os Meios de Alojamento Turístico (ver Ponto 2 de http://sergiopalmabrito.blogspot.pt/2012/07/travel-trends-2011-viagens-ao.html).
O Gráfico 8 ilustra um dos aspectos mais importantes da realidade da Economia do Turismo em Portugal:
- o número das Dormidas em todos os Meios de Alojamento Turísticos é quatro vezes mais importantes do que o das Dormidas no Alojamento Turístico Classificado.
Gráfico 8 – Número de Dormidas, em Portugal e nos Destinos Regionais, em Alojamento Turístico Classificado e em Todos os Meios de Alojamento Turístico
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
* Residentes em Portugal: Modalidades de Organização das Viagens, por Agências ou Operadores Turísticos, e com Destino ao Estrangeiro
Abrimos uma excepção ao tema, para referir um aspecto das Viagens ao Estrangeiro, por Residentes em Portugal. O Gráfico 9 ilustra, para os Residentes em Portugal, as Modalidades de Organização das Viagens, por Agências ou Operadores Turísticos, com Destino ao Estrangeiro e Duração de “4 ou mais noites”.
Em 2011, há
- 1.264 milhares de Viagens ao Estrangeiro por Residentes em Portugal,
- destas, 1.022 milhares duram “4 ou mais noites”,
- apenas 422 milhares são organizadas com recurso a Agência de Viagens ou Operadores Turísticos,
- destas, 292 milhares são organizadas “parcialmente” e 129 milhares são “tudo incluído”.
- Entre 2010/2011, o número de Viagens com “tudo incluído” passa de 187 a 129 milhares, uma queda de 31.0%.
Gráfico 9 – Modalidades de Organização das Viagens Com Recurso a Agências ou Operadores Turísticos, por Residentes em Portugal e com Destino ao Estrangeiro
Fonte: Elaboração própria com base em INE – Estatísticas de Turismo 2011
A Bem da Nação
Albufeira 8 de Agosto de 2012
Sérgio Palma Brito
Colaboração
A apresentação gráfica do post está a cargo do Dr. Ricardo Baptista. Sempre que os posts envolvem dados estatísticos, beneficiam da sua contribuição crítica.
Referências
(1) O presente post assenta em INE, Estatísticas de Turismo dos anos 2009/2011 e, muito em particular nos resultados do Inquérito às Deslocações dos Residentes.
Há uma observação de base a formular. Se respeitarmos as Recomendações Internacionais Sobre Estatísticas de Turismo, a designação do Inquérito seria “Viagens Turísticas dos Residentes” e não às Deslocações.
Nas Estatísticas de Turismo de 2011, no ponto sobre Inquérito às Deslocações dos Residentes”, o INE escreve (p. 25):
-“Em 2011, 3,9 milhões de residentes em Portugal realizaram pelo menos uma viagem em que tenham dormido uma ou mais noites fora do seu ambiente habitual (não foram contabilizadas as viagens dentro da localidade de residência e para local de trabalho ou estudo habitual) [o sublinhado é nosso]”.
Nesta redacção, Deslocação é substituída por Viagem e são excluídas as Viagens que não são Turísticas. Ao excluir as Viagens que não são Turísticas o INE está, indirectamente, a utilizar a designação de Viagens Turísticas.
Conclusão: porque Diabo não utilizar a expressão Viagem Turística e aumentar a confusão em assunto já clarificado a nível internacional.
(2) O INE utiliza uma tipologia de Alojamento Turístico mais larga do que a do Alojamento Turístico Classificado pelo Turismo de Portugal – ver o ponto 3.1 do Documento de Trabalho. Os Estabelecimentos Hoteleiros do INE não coincidem com os Estabelecimentos Hoteleiros do Turismo de Portugal.
(3) Se bem percebemos “tudo incluído” designa o Pacote de Férias, com Transporte, Serviços, Alojamento e Alimentação ou não (self catering). Esta designação não deve ser confundida com a actual modalidade de All Inclusive nem com o Inclusive Tour do International Passenger Survey do Reino Unido, ligado a uma garantia legal do Holiday Package.
(4) Em 1954, o Governo define Estabelecimentos Hoteleiros e Similares, até que os “Similares” dão lugar aos Estabelecimentos de Restauração e Bebidas. Ainda hoje há uma definição legal de Estabelecimentos Hoteleiros. A designação utilizada pelo INE ganhava em substituir Similares por “parecidos”, por exemplo.
(5) Esta frase justifica um post a justificar, passe o pleonasmo, este Inquérito pelo INE, com análise custo/benefício das contagens nas fronteiras terrestres. No caso dos Aeroportos, basta concentrar no INE o que actualmente se gasta em inquéritos dispersos e pontuais, para haver findos disponíveis.
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